quarta-feira, 21 de julho de 2010

O pacto


A família de Lucia não se conformava, ‘tão linda e tão esquisita’, no entanto, ela adorava a própria imagem, não seguia o padrão princesa da maioria das mui belas, mas se sentia muito atraída pelos meninos, gostava de observar a maneira como eles se divertiam e imitá-los sozinha. Adorava guardar coisas e também sentimentos. Manteve um diário até o dia de sua morte, colecionou figurinhas na infância, carteiras de cigarro e latas de cerveja na adolescência, saiu de casa aos 20 e passou a colecionar punhais, além das histórias em quadrinhos e filmes de terror que se acumularam ao longo da vida.

O comportamento excêntrico daquela mulher enfeitiçou Henrique, conheceram-se de maneira inusitada, em uma palestra sobre vida após a morte, dois meses depois já foram morar juntos.Gostavam das mesmas coisas e tinham uma fascinação pelo mórbido, os punhais de Lucia faziam belo par com os revólveres antigos e cheios de histórias das prateleiras de Henrique.

Apaixonada, desde o momento em que Lucia pisou no novo lar, a vida a dois tornou-se sua prioridade, passou a colecionar beijos e transas, se sentia totalmente dependente do corpo de Henrique, e da alma também.

Um mês depois do ritual de casamento, selado por um pacto de sangue, Lucia desconfiou da lealdade do ‘seu’ homem, leu uma mensagem no celular dele com os seguintes escritos: cinema amanhã, te encontro na sessão da meia noite, sala dos jogos mortais VI. Ela não admitiu tal infidelidade, ainda mais assim, dupla, como ele iria assistir a estréia dos jogos mortais VI com outra pessoa? Com outra mulher? Lucia não teve escolha, planejou tudo, e, assim que Henrique chegou serviu-lhe um vinho, com Bernard Herrmann no ouvido e a morte na cabeça escolheu um Punhal Senhor, que herdou do pai e praticou um clássico homicídio passional.

Lucia perfurou Henrique inteirinho, envolvida por uma frieza incontrolável, uma raiva incurável e uma sádica satisfação cortou-se também. Depois de cem punhaladas o picotou como quem rasga uma carta de amor e guardou os pedaços no armário barroco do banheiro. Pintada de vermelho escreveu em seu diário: ‘ no meu último momento de vida sinto o cheiro e o gosto da morte’, e com a Colt45 de ouro, cravejada com o desenho da Virgem de Guadalupe, estimação da coleção de Henrique, em punho, ligou a banheira e deitou-se, durante alguns minutos contemplou a cena da união do sangue dos dois, e, finalizando aquilo que começou e terminou nessa mistura deu um tiro na boca.
 

por anaterra viana,  não curte tanto sangue, mas adora vermelho

4 comentários:

  1. ai que meda dessa lúcia!!!

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  2. hahahahahha
    pensa que só homem pratica homicidio passional?
    vai vendo... ela era a"lucia"nada..
    mas já morreu, no máximo vem puxar uns pésinhos de noite... ho ho ho

    anaterra

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  3. Vim buscar uma leitura leve pra esse domingo de trabalho. Achei :-)

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