sexta-feira, 2 de julho de 2010

Vestindo a camisa.

O que é um time sem uniforme? Cada vez mais: nada. Há um tempo atrás tínhamos jogadores que representavam seus times, mas hoje em dia só mesmo as camisetas dizem de qual lado se está jogando. Esta é a época de muitos reis e nenhum reinado, no qual virar a casaca pelo cachê que se oferece é bem comum, não é verdade?

Mas no esporte mais popular do país da malandragem, a regra é clara - quanto melhor a campanha do time mais valioso é o metro quadrado do seu uniforme. As partes do corpo também têm suas variações de preço, o peito e o pé são as regiões mais cotadas e se você for um grande jogador, pode ganhar contracheques de CNPJs diferentes. Falta de escrúpulos ou uma espécie de livre comércio? Alguns poderiam chamar de hábito cultural.

Pelé, que na Copa do Mundo de 1958 virou “patrimônio nacional” para o Brasil não correr o risco de ficar sem ele, foi atrás do seu dinheirinho extra na Copa de 1970, no México. Conta-se que ele quase ficou sem patrocínio porque a Puma e a Adidas - marcas de rivais desde a briga dos irmãos Adi e Rudolf Dassler - fizeram o “pacto Pelé”, um acordo que colocava o jogador de fora das investidas das duas companhias para que não rolasse uma espécie de leilão e o seu preço ficasse nas alturas. Mas Pelé estava insatisfeito com o contrato pouco substancial que a empresa brasileira Stylo havia oferecido e recorreu ao jornalista Henningsen, então contratado pela Puma. Por achar que a “situação era ridícula demais”, ele quebrou “El Pacto” e a marca do leopardo pagou 25 mil dólares para que o rei usasse suas chuteiras.

Para fazer valer o investimento, Henningsen convenceu Pelé a abusar das câmeras um pouco antes do pontapé inicial. Assim, o jogador iria até o juiz e pediria um minuto, se ajoelharia e amarraria lentamente os cadarços. A propaganda improvisada apareceu na tela de milhões de aparelhos e foi associado à seleção brasileira campeã daquele ano. O presidente da Puma quis processar a Adidas por usar o slogan “a marca dos campeões”, pois dessa vez ela não estava sozinha em campo. O acordo durou 4 anos e as linhas “King” e “Black Pearl”, criadas em homenagem ao jogador trouxeram mais grana na jogada.





Uma imagem da Copa de 1970, nos pés Adidas e Puma, nas cabeças o começo da confusão de objetivos...



(mais sobre os bastidores do futebol moderno no livro “Invasão de campo: três listras, dois irmãos, uma briga” de Barbara Smit, 2007)



por Gabi, critica mas curte futebol!

5 comentários:

  1. jabulani, a pior das inovações do design deste século!!

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  2. engraçado que a campanha dos times europeus na primeira fase da Copa estava sendo criticada pra caramba.... e , misteriosamente 3 times europeus disputaram as semifinais e 2 irão disputar a final.... estranho isso néw?? Na voz de Cid Moreira: Mistéeeerioooo... hahaha

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  3. Muito bom, Gabi!
    Pior que isso é ver as marcas dominando não só os jogadores como equipes inteiras, comissão técnica e até os resultados. Sim, eu adoro uma teoria da conspiração e vivo achando que é tudo manipulado.
    Mesmo assim eu torço igual louca e morro do coração várias vezes. Chego até a acreditar que é tudo de verdade. É bem mais divertido! :)
    Beijos gata! xx

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  4. Eu não sei se a conspiração chega a ser tão grande, acho que os patrocinadores interferem, mas não chegam a definir placar... não diretamente ao menos, rs. !

    Na hora do jogo nada como acreditar no fairplay né não?
    Beijoss pras minas!

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